Com vida dividida entre os tabuleiros e as sapatilhas, Beatriz disputa o xadrez do Intercolegial 40 anos
Xadrez e balé são duas artes sutis, mas muito distintas. Da estratégia ao controle corporal, quase não se pode traçar um paralelo entre o tabuleiro e o palco. Se existe alguém que consegue andar na corda bamba entre um e outro, é Beatriz Silva. A aluna do Paraíso, de Caxias, foi uma das participantes da modalidade no Intercolegial 40 anos, disputada no Santa Mônica Centro Educacional, em Bento Ribeiro.
Aos 17 anos, ela passeia entre os tabuleiros e as sapatilhas com tanta leveza que nem revela as dificuldades que enfrentou no caminho. Trajetória que começou muito cedo.
— Eu comecei no balé com cinco anos no Paraíso, escola em que estudei a vida inteira. A professora me viu e sugeriu que eu fizesse prova para o Teatro Municipal do Rio. Eu me dediquei durante um ano para isso e na segunda prova, com oito anos, eu passei — contou Beatriz.
Se já não bastasse a rotina pesada de uma bailarina do Municipal, que incluía acordar às quatro horas da manhã e pegar carona com um padrinho taxista até os ensaios, a garota não se contentou apenas com a dança e inseriu mais uma modalidade nessa agenda: o xadrez.
Ela começou a mexer as primeiras peças em 2017, após o incentivo do professor de educação física da escola de Caxias. O Intercolegial 40 anos é o terceiro torneio que a bailarina disputa.
— O xadrez me ajudou a sair mais de casa. Minha família é bem conservadora e isso me ajudou a conhecer pessoas novas — brinca a atleta, que fechou o Intercolegial na 15ª colocação na categoria sub-18 não federado.
A crise financeira agravada pela pandemia de Covid-19 afastou Beatriz do Municipal. Durante a quarentena, as aulas online enfrentavam as dificuldades de conexão e a volta aos ensaios presenciais ficou financeiramente inviável. Só que a dança jamais deixou a rotina da bailarina. Ela é professora de balé na escola onde começou e que representa no xadrez, a Paraíso, além de uma academia em Caxias. E os sonhos são ainda mais altos.
— Era difícil conciliar tudo, o xadrez, o balé, curso... E agora o concurso para ser militar, que é o que eu quero fazer. Sou uma bailarina que quer fazer concurso militar, fica até difícil me definir — riu a enxadrista.
Bailarina, enxadrista ou militar, Beatriz não quer nem precisa se definir. Da leveza da movimentação das peças de xadrez aos passos de bailarina nos palcos prometem levar a garota do Paraíso cada vez mais longe.
FOTO: Ari GomesVoltar