Em festa, Loide Martha, de Caxias, recebe o troféu de vice-campeão do Inter 2021 em sua sede
Depois de, literalmente, muito suor na camisa de seus atletas, chegou o dia da festa para o Loide Martha. O troféu de vice-campeão geral do Inter 2021 foi entregue nesta terça-feira (7/12), na sede da escola, no bairro Vila São Luiz, em Caxias. A taça foi recebida pelo diretor geral Floriano Trigo Lage das mãos de Sergio Freitas, coordenador técnico dos Jogos. O coordenador de esportes do colégio, Itiel Rodrigues, e seu auxiliar, Ramon Oliveira, também estiveram presentes.
Foi uma comemoração em família, na qual todos eram importantes. Desde o diretor geral, até os atletas não havia estardalhaço, apenas a felicidade por mais um grande desempenho no Intercolegial. Foi uma competição diferente, após mais de um ano e meio de pandemia, com muitas adaptações, mas o Loide mostrou que continuará brigando pelo topo do Inter por muito tempo.
Após a sessão de fotos, Floriano se derramou em elogios ao Intercolegial e depositou suas esperanças numa mudança significativa para 2022.
— O evento é maravilhoso em todos os sentidos. Infelizmente essa situação atual leva todo mundo a tomar cuidados. É normal. Vai passar. E ano que vem vamos brindar novamente juntos. Estamos levando educação e saúde para os alunos, para os atletas, que são amadores, mas são atletas — afirma o diretor, que fez questão de enaltecer todos os participantes dos Jogos:
— Chegar em segundo lugar é uma consequência, como será também se chegarmos em primeiro um dia. Parabéns a todos, porque senão houver o segundo, o terceiro, o quarto... não existe o primeiro. Todos são importantes.
O coordenador de esportes do Loide Martha, Itiel Rodrigues, estava bastante emocionado. Ao contar sobre um ano difícil não só por conta da pandemia, mas também por estar passando por problemas de saúde, ele chegou às lágrimas. Através de suas palavras é possível sentir a importância que a escola dedica ao pilar formado por educação e esporte, até porque ele é um exemplo de que o esporte é um caminho para a inclusão social.
— Educação, esporte e solidariedade constroem, porque você vai tirar o garoto de onde o tráfico estaria abraçando para o esporte. Vai tirar o garoto do analfabetismo, da falta de conhecimento, através do esporte. Eu sou o único formado da minha família e devo ao esporte. E quero dar ao esporte aquilo que recebi. Esta instituição me permite isso. Não temos pressão de ser campeão. A gente tem pressão de fazer com que a competição seja uma construção do cidadão, de uma sociedade melhor. O Inter nos proporciona isso.
Mesmo nos momentos mais difíceis da pandemia, o Loide Martha não abriu mão do seu projeto esportivo, indo na contramão das medidas tomadas por muitas escolas. E mais uma vez ficou comprovado que o resultado acontece. Pela quarta vez seguida, a escola ficou em segundo lugar e a cada ano vem diminuindo a diferença para o Santa Mônica Centro Educacional, de Cascadura, tetracampeão seguido do Inter. E o Loide quer mais.
— Em 2020 os colégios dispensaram os seus treinadores. O Loide não. Mantivemos todos, mesmo sem ter competição. Todos os treinadores receberam seus salários. Numa conquista dessa, temos de mostrar para os alunos que é assim que a gente constrói uma sociedade melhor, quando você olha o outro, sem olhar só para você. Ninguém vive sozinho. Infelizmente nós temos esta mentalidade hoje no Brasil, de que o dinheiro, o ter e o estar são o mais importante. O importante é ser humano. Nós temos essa filosofia. Enquanto no Estado o esporte está abandonado porque as pessoas estão preocupadas em ganhar dinheiro e estão esquecendo de proporcionar ao cidadão saúde através do esporte, crescimento social e familiar através do esporte, o Loide Martha pensa diferente — garante Itiel.
Confira mais alguns trechos da entrevista do coordenador de esportes do Loide Martha:
Esporte e educação
Em meio a um Estado em que as pessoas infelizmente não valorizam esta duplicidade esporte/educação, eu sou um privilegiado, porque trabalho numa escola onde o meu diretor, o professor Floriano, e sua família abrem mão de algumas coisas para nos dar a oportunidade de investir no esporte, como braço real da educação. E dá resultado porque a diretoria investe e te deixa trabalhar. Não é o resultado pelo resultado. Por exemplo, o Intersolidário veio de encontro com a filosofia de trabalho da escola. Somos uma família. Hoje a gente queria que os pais dos alunos estivessem aqui, porque eles nos ajudam no dia a dia. Levam os seus filhos nos seus carros para as competições, quando o ônibus não está legal, se oferecem para alugar vans. Isso é reflexo da direção que ajuda, incentiva.
Esporte na Baixada
Na Baixada é difícil de trabalhar com esporte, de manter uma escola de uma unidade só, de bairro, disputando o geral do Inter porque a gente vê muitas escolas daqui disputando uma modalidade ou outra. Então agradeço ao Floriano, Tiago, Juliana e Telma por me proporcionar enquanto educador e professor de educação física o privilégio de ter alunos/atletas que hoje são formados, são professores de educação física. Alguns trabalham com a gente, inclusive.
Gratidão a Ramon
Quero agradecer também o Ramon (auxiliar de coordenador de esportes do Loide Martha) que foi um anjo de Deus na minha vida este ano. Tive problemas de saúde e não pude acompanhar. Ele foi em todos os jogos, ele organizou tudo, inclusive esta recepção de hoje.
Importância do Inter
O Intercolegial nos proporciona tudo isso, porque se não acontecer, não vamos ter uma competição para as escolas no Rio de Janeiro. E o que a gente faz o que com os garotos e com os profissionais que precisam trabalhar? São menos famílias com o pão de cada dia na mesa. São menos pessoas alcançando a educação através do esporte.
Homenagem a Murilo Aguiar (coordenador do vôlei e do vôlei de praia do Inter, falecido no fim de outubro)
Saudade do Murilo e de muitos outros que já passaram por essa competição e que nos permitem como educador dizer para essa galera que no tráfico eles ganham dinheiro com facilidade, mas morrem com facilidade. Na criminalidade também ganham dinheiro com facilidade, mas perdem suas famílias. Na educação e no esporte não, eles vão ganhar um dinheiro um pouco menor, mas vão ganhar respeito, cidadania e o que é o mais importante para o ser humano que é andar de cabeça erguida, não abaixar a cabeça para ninguém.
Parabéns aos adversários
Parabéns Santa Mônica Centro Educacional, parabéns GEO (Juan Samaranch) e a todas as escolas que competem porque são milhares de alunos que deixam de estar na ruas e no tráfico para estar fazendo esporte e se formando cidadão de bem, com a maior riqueza que a gente tem: saúde e educação.
Objetivo de ser campeão
A ideia não é só almejar o título, mas é claro que queremos ser campeões. Eu não conheço nenhum desportista que entra numa competição para ser último colocado. Estão deixando a gente sonhar, a diferença está diminuindo e se deixar a gente chegar, a gente quer a parte maior do bolo. A gente está chegando, aos poucos, não somos mineiros, mas estamos quietinhos, comendo pelas beiradas. O vice-campeonato é uma conquista para a gente? Sem dúvida que é, porque ensinamos isso aos nossos alunos. Não é só o campeão que tem valor. Todos têm. Quantas escolas participaram? 40? Então, a 40ª tem o mesmo valor da primeira. A gente no Brasil tem a ideia, tem a mania de dizer que segundo lugar é o último. Não é. É o segundo lugar. Tem 39 que ficaram para trás. Quando o Inter teve 300 colégios, eram 299 que ficavam para trás. A ideia da gente não é se satisfazer com o vice. Queremos entrar para competir, mas se deixarem a gente chegar e sonhar, queremos a maior parte do bolo.
FOTOS: Ari GomesVoltar