Projeto de xadrez leva molecada de Mesquita ao ouro no Intercolegial 40 anos
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Baixada Fluminense coloca as peças no tabuleiro do Intercolegial. O projeto Xadrez Mesquita faz brotar no município a febre do jogo e leva crianças da inclusão social ao maior torneio entre escolas do Rio de Janeiro.

No último sábado (3), o xadrez do Intercolegial 40 anos reuniu mais de 500 atletas de 39 escolas de todo o Estado do Rio. Mesquita foi representada por três desses colégios com 28 enxadristas, capitaneados por Josimar Barroso, idealizador do projeto voluntário.

— Eu queria saber como ajudar as crianças da cidade. Mas futebol, jogam mais que eu. Capoeira, jogam mais que eu. Pipa, soltam mais que eu. Mas xadrez eu sei jogar, posso tentar ensinar. Eu acho que esse é um dos meios para tirar as crianças de um círculo perigoso que tem ali — conta Barroso.

O projeto surgiu em 2017, quando Josimar teve a ideia de usar um conhecimento próprio, o xadrez, para introduzir o jogo na vida de crianças da Chatuba. O primeiro peão foi movido na Escola Municipal Che Guevara, no coração da comunidade, com o objetivo de promover desenvolvimento social da molecada.

Hoje, cinco anos depois, o Xadrez Mesquita já conta com o apoio da Prefeitura da cidade, oito oficinas em pontos estratégicos da cidade e abraça mais escolas envolvidas e um centro de treinamentos na Escola Municipal Cruzeiro do Sul. São mais de 500 alunos que passam pelos tabuleiros de Mesquita.

— Era utopia ver o negócio expandir e trazer essas crianças para o Intercolegial. Meu primeiro torneio foi no Maracanã e eu levei todo mundo da Che Guevara de trem. Éramos oito atletas. Foi aí que eles perceberam que poderiam jogar com qualquer um — revela Barroso.

O Intercolegial, que começou como um sonho distante dos meninos e meninas da Baixada, se tornou a realidade para 28 atletas do projeto. Uma delas, Rafaela Martins, tinha um desafio grande pela frente: aos 13 anos, disputar frente a frente com as meninas da categoria sub-18. E ela venceu. Foram seis jogos, cinco vitórias e ouro no peito.

— É uma realização. Eu acho que jogo é jogo, qualquer errinho pode fazer você perder. Esses erros sempre acontecem e eu pude aproveitar esses erros, acabei ganhando e foi lindo — conta a campeã, que estuda na Escola Municipal Monteiro Lobato, em Nova Iguaçu.

Rafaela é fruto inesperado da árvore do Xadrez Mesquita. O projeto foi fundado com o objetivo de manter crianças das comunidades do município no ambiente saudável do esporte, incentivar a educação e promover cidadania. Criar campeões é um resultado disso tudo.

— O objetivo do nosso projeto é social. Mas vir para cá traz novas perspectivas para essas crianças. Em primeiro lugar, a autoestima de quem achava que nunca aprenderia a jogar xadrez. Hoje, elas vêm para cá com a camisa do projeto com o nome de Mesquita com orgulho de usar. Segundo, ter uma outra perspectiva de vida. Eles encontram com outras crianças do Santa Mônica, do Colégio Militar, e isso cria uma nova visão para aquela criança estudar mais e alcançar novos objetivos — explica Barroso.

O título da menina Rafaela coroa a nobreza de uma iniciativa. Um sonho nascido no pátio de uma escola municipal da comunidade da Chatuba chegou ao topo do Intercolegial.

Os olhos marejados do pai do Xadrez Mesquita revelam que todo o esforço por elas, desde o primeiro torneio levando oito crianças de trem até a medalha de ouro no Intercolegial 40 anos, valeu a pena:

— A vida dessas crianças é dura. Mas o xadrez é um esporte que ensina a perder. Não é só ganhar e ganhar. Na vida, a gente ganha e perde, como no xadrez. Acabou, aperta a mão do adversário e vamos estudar para melhorar. Xadrez é para a vida.

FOTO: Ari Gomes




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