#tbtxadrez: Com alunos dos campis de Caxias, Paracambi e São Gonçalo, IFRJ faz história no Intercolegial
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O IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro) não passou sem ser notado pelo xadrez do Intercolegial 40 anos, disputado no início de setembro, na unidade de Bento Ribeiro do Santa Mônica Centro Educacional. Muito pelo contrário! O título sub-18 livre masculino e a prata na mesma categoria entre as meninas, obviamente, não foi um detalhe, mas chega a rivalizar com as histórias que os professores e os alunos das unidades de Caxias, Paracambi e São Gonçalo têm para contar durante muito tempo.

A paixão pelo xadrez dos professores de física do IFRJ Rafael Santana, do campi de Caxias, e Leandro Pereira, o Folha, de Paracambi, uniu os alunos, que fazem de tudo para se encontrar nos treinos, sejam remotos ou, de preferência, presenciais. Enquanto tentava falar um pouco do projeto, Rafael teve de interromper a entrevista e abraçar seus alunos que gritavam sem parar com a notícia das conquistas da escola.

— Temos uma ligação forte de amizade entre todos. Os alunos estão muito animados. A gente procura incentivá-los a participar dos treinos, dos eventos internos e eles querem sempre se encontrar, online ou presencialmente. Viemos como uma instituição só e queremos que outras unidades participem também — conta o professor Rafael, ao lado de Leandro, coordenador do projeto de xadrez do IFRJ.

Em meio a tantos talentos apaixonados pelos tabuleiros, está Kauã, de 16 anos, que é deficiente auditivo. Mesmo diante de todas as dificuldades para se comunicar e da falta de mais intérpretes na escola, que certamente tornaria as coisas muito mais fáceis, ele pôde competir e participar de experiências inesquecíveis para toda a vida.

— Ele é deficiente auditivo e a sua primeira língua é Libras. Para se comunicar com ele sem ser pela linguagem de sinais, temos a sorte de ele saber escrever muito bem, graças ao acesso a uma boa educação. Se a gente escrever ou digitar, ele consegue entender muito bem. Nos treinamentos, ele basicamente assiste e lê o que foi digitado — explica Rafael, que também é professor de física de Kauã:

— Eu dei aula para ele na época da pandemia em que o ensino era remoto. No dia em que não tinha interprete eu fazia a explicação, parava e escrevia tudo o que tinha explicado. Era muito mais demorado. Nas aulas presenciais, não dá para ensinar ao mesmo tempo em que se comunica em duas línguas. É preciso ter um intérprete. Essa é a grande dificuldade. Temos três alunos com deficiência auditiva e no colégio não temos intérpretes suficientes. Só temos um lotado na escola. Para outros, temos de pedir favor, conseguir estagiários. A grande dificuldade é a barreira linguística. Para treiná-lo é preciso escrever o que a gente falou se não tiver intérprete.

Nada que impeça Kauã de participar normalmente do xadrez, como outro jovem qualquer.

— Ele é muito bom. Joga muito bem. Sou um professor entusiasta, sempre estou estudando, estudo para ensinar, mas considero o nível dele mais alto que o meu. Tem toda capacidade de jogar como qualquer outra pessoa sem deficiência. Ele é inteligente, extrovertido, capaz e muito forte no xadrez. Precisa aprender muito mais, é claro, assim como a maioria dos alunos, mas o xadrez é o esporte da mente. Não importa se a pessoa é alta, baixa, gorda, magra, se anda de cadeira de rodas ou não, é só usar o cérebro — afirma o professor.

Por meio do telefone, Kauã contou um pouco de sua experiência com o xadrez, respondendo duas perguntas da reportagem do Intercolegial 40 anos:

Queria saber como você começou. O que te despertou o interesse em começar a jogar?

“Eu conheci o xadrez por uma professora de educação física, em 2017. Comecei aprendendo a base, mas eu senti logo no início o gosto pelo xadrez e me apaixonei. De lá para cá, eu aprendi muito, treinei bastante. Uma coisa que eu aprendi com o xadrez é como a evolução melhora nossa memória e nos deixa mais Inteligente e esperto.”

Qual a maior dificuldade que você encontrou para jogar em tão alto nível? E como você fez pra superar?

“Eles são muito bons, às vezes eu falhei na proteção da rainha, mas vou tentar continuar evoluindo até conseguir melhorar ainda mais, pois a prática é o que vai evoluir ainda mais as táticas.”

Na foto abaixo, Kauã mostra o telefone que usa para conversar. Também estão presentes os professores Rafael (à esquerda) e Leandro (de chapéu).

FOTOS: Ari Gomes




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